quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Rede Embolada


O Mark Zuckerberg mostrado no filme A Rede Social( The Social Network, no original) é descrito por muitos como um ser humano desprezível, sem escrúpulos, interessado apenas em si mesmo. Mas a melhor descrição está dentro do próprio filme. Mark não é um idiota, mas faz de tudo pra ser.
Citando o jornalista Arthur Xexéo, a primeira cena da trama faz qualquer um se sentir um analfabeto funcional. A conversa entre Zuckerberg( vivido por Jesse Eisenberg) e a ex-namorada segue num ritmo completamente alucinado, que desacelera no resto do filme. Mesmo assim, o excesso de informação das cenas e dos diálogos faz com que um filme de cerca de duas horas pareça durar três.
Mas uma coisa fica clara: a imaturidade emocional de Zuckerberg(o personagem.A personalidade do original não entra em questão). Ele é o típico gênio: inteligentissímo, mas com grande dificuldade de se relacionar e com grande facilidade de se deslumbrar por qualquer um que, a seu ver, pareça superior e digno de admiração. O problema de Mark não é falta de caráter, mas de habilidade para entender as pessoas. Essas características foram cruciais para que a amizade com o sócio Eduardo Saverin fosse para o ralo, no decorrer da trama.
O elenco é todo bom. Até Justin Timberlake consegue convercer na pele de Sean Parker, mentor de Zuckerberg e fanfarrão de primeira. Mas os destaques são Eisenberg e Andrew Garfield, no papel de Saverin, financiador do projeto do facebook.
No balanço final, A Rede Social é um bom filme, com boas cenas e uma boa trilha sonora. Mas o modo como os fatos são mostrados acaba embaralhando a mente de quem vê. Depois que as luzes se acendem, fica aquela sensação de que faltava alguma coisa. A história a ser passada (no caso, a dos bastidores por trás da criação do Facebook) perde o brilho e soa comum demais.
O filme já recebeu indicações ao Globo de Ouro e muitos acreditam que vai figurar entre os indicados ao Oscar. Levando em conta esse detalhe e os favoritos da Academia nos últimos anos, a premiação desse ano vai ser tão empolgante quanto receber 50 convites para entrar no FarmVille.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Nowhere Man

Dia 9 de Outubro John Lennon faria setenta anos se estivesse vivo. E dia 8 de Dezembro, farão trinta anos sem John.
E curiosamente, nesse mesmo ano, foram lançados no Brasil dois filmes relacionados ao músico: o documentário Os Estados Unidos x John Lennon( The US x John Lennon,falando um pouco do seu lado político, e o longa Garoto de Liverpool( Nowhere Boy, no original), contando sua vida. O segundo está em cartaz no Festival do Rio.
Qualquer pessoa que me conhece sabe que sou completamente apaixonado por Beatles. Embora o meu favorito dos quatro seja o George Harrison( que vai ganhar um documentário do Scorcese) eu tenho um carinho muito grande pelo John.
Ele teve uma vida difícil. Embora tenha sido criado por tios que só queriam o seu melhor, sofreu muito ao ser abandonado pela mãe, que mais tarde morreria em um acidente de carro. E quando ia para a primeira apresentação do filho. Foi para ela que ele escreveu Julia.
Vivia soltando piadas, rindo e debochando dos outros, mas era sua própria forma de lidar com seus demônios interiores.
Mesmo depois do fim dos Beatles, vai ser o eterno cúmplice do Paul McCartney. Deixou para trás uma esposa e um filho para se casar com a excêntrica artista plástica Yoko Ono.
Cometeu erros. Mas que não os comete? Nosso maior problema é divinizar pessoas famosas, esquecendo que eles também são humanas.
Era extremamente politizado, se envolvendo em várias causas.
Foi morto pelas mãos de um fã, de forma estúpida.
E, obviamente, foi um dos maiores músicos que este planetinha azul já viu.
Apesar de todos os problemas e de se sentir a vida inteira um "nowhere man", ele nunca calou sua voz.
John fez milhões de canções, mas talvez a mais conhecida pelos que não são Beatlemaníacos e Lennonmaníacos seja Imagine. Isso deve muitos de fãs ortodoxos de nariz torcido. Ainda existem aqueles que podem classificá-la como clichê demais.
Mas convenhamos, são poucas as músicas que expressam o sonho de uma pessoa de forma tão clara. O sonho de um mundo melhor não só para ele, mas para todos.É só ouvir para nós lembrarmos dos Onion Glasses encarapitados num nariz curvo, e aquele sorriso debochado e olhinhos apertados.
Esse era John Lennon.Um garoto de Liverpool, membro da maior banda de rock de todos os tempos, piadista, homem de lugar nenhum....

e mais do que tudo, um eterno sonhador.

sábado, 25 de setembro de 2010

Observações

Olá caros leitores!! Só passei aqui para esclarecer algumas coisas:

1º-o primeiro turno do Top Blog acaba dia 6 de Outubro, por isso restam poucos dias para votar no Pipocando.

2º- a ultima postagem, sobre o filme A Origem, é cheia de referências do mesmo. Por isso, se você ainda não assistiu (ou pretende ver de novo)não deixe de prestar atenção no que foi escrito.

Por hoje é só meus caros. Não se esqueçam de dar um apoio para que este humilde blog vá para o segundo turno do concurso

Até a próxima postagem ^^

sábado, 7 de agosto de 2010

Mind Heist



"Qual o parasita mais resistente que existe? Uma idéia. Uma única idéia de uma mente humana pode construir cidades. Uma idéia pode transformar o mundo e mudar todas as regras."
Christopher Nolan sabe bem o significado dessas palavras.Seu mais novo filme, A Origem (Inception, no original) passou dez anos chocando até ganhar as salas de cinema do mundo todo.
Na trama, Dom Cobb(Leonardo DiCaprio) e Arthur(Joseph Gordon-Levitt) trabalham roubando segredos de pessoas através de sonhos, que os dois induzem. Depois de uma tentativa fracassada de entrar na mente do empresário Saito( Ken Watanabe), os dois recebem uma proposta indecorosa do mesmo: plantar uma idéia na mente do filho de seu rival.Em troca, Cobb, que está foragido, poderia voltar para a casa e rever os filhos. A partir daí, a história segue cheia de reviravoltas e muita, muita tensão.
O parasita criado por Nolan estourou como uma bomba.Críticos e cinéfilos do mundo inteiro parecem não entrar em acordo sobre o roteiro. Seria ele um verdadeiro trabalho de mestre ou apenas uma "viagem" sem propósito?
Foi aí que vossa humilde bloggeira foi contaminada por um parasita: "o que realmente é A Origem?"
Depois de assistir o filme duas vezes, uma na estréia, e outra exatamente um mês depois, eu tenho a (minha) resposta.
A Origem é BRILHANTE.
Se Christopher Nolan deu um grande passo com O Cavaleiro das Trevas, com esse filme, ele deixou sua marca na história do cinema.
Pode não ser o tipo de filme que se entende tudo logo de primeira, mas não é o tipo de filme para ser esquecido. A prova disso é o fato de ainda estar lotando sessões.
O elenco é colossal. Di Caprio voa alto. Ellen Page e Gordon-Levitt se distanciam completamente de seus personagens anteriores, convencendo os mais céticos de seu talento. Tom Hardy, Ken Watanabe e Cillian Murphy estão ótimos. E Marion Cottilard......dá um banho.
A trilha sonora, de Hans Zimmer é arrebatadora.
O diretor já tinha mostrado antes grande talento em cenas de ação e perseguição. (impossível de se esquecer a perseguição no túnel de O Cavaleiro....)e reforça isso nesse trabalho.
Os tons azulados e os cenários urbanos dão um toque elegante ao filme.
Agora, quanto ao roteiro.....
Essa parte talvez fique um pouco pessoal.
O maior talento de Christopher Nolan é a sua capacidade de ir fundo na alma humana, de manipular as emoções e trazê-las a tona. Ela as transmite para a tela de forma incisiva, sem rodeios, sem dramalhões. É impossível assistir a seus filmes sem sentir nenhum tipo de sentimento, bom ou ruim.
Em A Origem, não podia ser diferente.
As emoções e conflitos de Di Caprio e de outros personagens nos acertam de forma chocante.É como ser pego por uma onda inesperada, ser acertado por um trem em movimento( se me permitem o delírio poético).O impacto pode até transtornar alguns.Em certos momentos, é impossível contar as lágrimas.Mas vale a pena passar por isso.
Para realmente apreciar o filme, não é preciso ser muito inteligente.
É preciso se deixar levar nessas emoções,é preciso entrar na mente dos personagens,se desligar da lógica do lado de fora.
É preciso ser capaz de sonhar e acreditar nos sonhos.
Por isso, deixem-se contaminar por esse parasita.
Deixem-se levar como um peão em um tabuleiro de xadrez.
Mergulhe fundo nessas emoções.
Transforme sua mente na cena do crime.
Tenha cuidado com as sombras que pode encontrar no meio do caminho.
Se liberte das velhas lembranças que te prendem.
E não tenha medo de sonhar um pouco mais alto.

sábado, 3 de julho de 2010

Sim, caros leitores, o Pipocando foi indicado ao Top Blog 2010 e agora está participando oficialmente da disputa!!!
Queria agradecer a vocês, pelo apoio. Mas quero dar um agradecimento especial a uma pessoa.
Eu não tenho a menor ideia de quem ela seja. Não sei se a conheço ou não, mas se não fosse por ela, este blog não teria o selo ao lado.
Obrigada, quem quer que você seja, por ter indicado o Pipocando ao Top Blog 2010. É muito gratificante saber que, mesmo sendo modesto, recente e possuindo pouquíssimos seguidores, o Pipocando agradou alguém de tal forma que recebeu esse presente.
Obrigada mesmo. Este é um blog humilde, iniciante, sem grande destaque. Mas, caso ele agrade também aos jurados e consiga ganhar algo (sem querer ser muito pretensiosa), digo desde já que essa vitória não iria ter acontecido sem a sua ajuda.

Obrigada. Se ler essa mensagem e quiser se identificar, é só mandar um e-mail.
Agora, camaradas, é só ficar na torcida. O resultado da primeira fase sai só em Outubro. Até lá, espero que a cinéfila aqui continue podendo compartilhar um pouco de sua paixão com vocês.
Até o próximo post.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ao mestre, com carinho


Seria nesse post que eu voltaria com as críticas, mas motivos de força maior me fizeram mudar de ideia.
Achei por acaso no youtube o vídeo de uma homenagem a Graham Chapman. Para quem não sabe, Chapman fazia parte do grupo de comediantes ingleses Monty Python, considerados até hoje gênios e autoridades do humor.
O grupo fez muito sucesso na TV com o programa Monty Python Flying Circus, mas também deixaram sua marca no cinema. Até hoje filmes como Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado e A Vida de Brian são lembrados entre gargalhadas e sorrisos.
Eu considero todos os seis pythons, John Cleese, Eric Idle, Michael Palin, Terry Jones, Terry Gilian e Graham Chapman meus mestres. Um dos meus maiores sonhos é poder fazer uma entrevista com todos reunidos.
Mas isso não seria possível, mesmo que por algum milagre eu conseguisse conhecê-los. Graham Chapmam morreu de câncer em 1989, deixando para trás cinco amigos e muitos fãs.
Ele era uma daquelas poucas pessoas que realmente sabiam fazer rir. Sua genialidade vinha desde os roteiros escritos até sua atuação. Graham era uma verdadeira pérola.
Sua morte ocorreu em 4 de Outubro, um dia antes do vigésimo aniversário do Monty Python, o que fez Terry Jones classificar o fato como " o pior caso de furo de festa da história".
Impossível não ficar emocionada (e também rir) ao assistir a homenagem feita pelo resto da trupe. Mas também achei um vídeo igualmente emocionante, feito com fotos do comediante e a música How to Safe a Life do The Fray.
Deixo esses vídeos aqui como forma de montar a minha homenagem, na falta de uma melhor.
Ao mestre, com carinho.

http://www.youtube.com/watch?v=uBlukXDoBo8&feature=player_embedded

segunda-feira, 14 de junho de 2010

E para o seu divertimento.......


Robert Downey Jr. é com certeza um dos (bons) atores mais badalados hoje em dia. Também, não são todos que após um período tortuoso longe das telas conseguem ser indicados a um Oscar, e interpretar personagens como Sherlock Holmes e Tony Stark.
Durante uma das minhas perambulações pelo youtube ( e pela memória do meu computador), descobri que o ator também canta!! E muito bem, por sinal.
Vou deixar de brinde para vocês versões de músicas que eu amo. Da primeira, só gostei mesmo da parte em que Downey Jr. canta. O vídeo contém cenas do filme Chaplin, de 1992, como o ator no papel -título.


a segunda é uma versão da música "Every Breath You Take", feita junto com a banda Sting, que também está na gravação original com o The Police.


Bom proveito^^

domingo, 16 de maio de 2010

Enter Sandman

Aparentemente, a praga que rogaram em mim se tornou realidade. Além de cinéfila, sou agora uma Comics Geek( traduzindo: viciada em Quadrinhos). Eu já estava me interessando por eles há muito tempo.Quis começar por algo mais próximo do meu universo, com Batman e The Spirit, mas como a ambição falou mais alto, corri logo para algo mais....."conceituado". Devorei Watchmen, mas como ainda não vi o filme, meu lado cinéfilo ficou em falta.
Depois do subir, eu desci de novo? Nem pensar!!!! Quis investir em algo muito mais clássico, sofisticado, cult, amado, idolatrado (salve, salve).... e no fim, esta pessoa cruzou meu caminho:

Não fãs de The Cure, não é o Robert Smith. Não fãs de Tim Burton, não é o Edward Mãos de Tesoura. Este é o único e imcomparavel Sandman!!!!!
Também conhecido com Morpheos, ele é o protagonista de um dos maiores clássicos das histórias em quadrinhos do mundo todo, cujo o nome é o mesmo que o de seu herói.
Sandman foi criada por ninguém menos que Neil Gaiman, famosos por livros como Stardust e Coraline( sendo que ambas já foram adaptadas para as grandes telas) e possui fãs espalhados pelo mundo inteiro. A obra foi e ainda é tão idolatrada que virou tema de uma música do Metallica, Enter Sandman:
Morpheus é ninguém menos que o velho João Pestana, o responsável por jogar areia em nossos olhos e nos fazer adormecer. O Sandman de Neil Gaiman é uma versão mais bem acabada do velho personagem, sendo chamado de Senhor dos Sonhos. Ele é um dos sete pepétuos, personificações de conceitos e sentimentos presentes na vida de todos os seres humanos, como o Desejo, o Delírio e o Destino. Morpheos é o Sonho.
Sandman começa quando seu protagonista é capturado acidentalmente em um ritual pelo mago Roderick Bugess, em 1916. Ele passa anos trancado em uma redoma de vidro no porão de seu captor, até que por descuido consegue fugir. Voltando ao seu reino, o encontra destruído, e parte atrás de seus objetos roubados durante sua prisão: a algibeira (bolsinha onde carrega sua areia), seu elmo e seu rubi. Sem eles, Morpheos perde os poderes. Mas a busca não tem nada para ser fácil, uma vez que seus objetos vão parar nas mão de humanos irresponsáveis e também de demônios. Rola até um encontro com o exorcista/ caçador de monstros/ fumante inveterado mais querido dos nerds e afins, John Constantine e uma visita ao Asilo Arkham, onde estão presos vilões com Jonhathan Crane( o Espantalho) e Harvey Dent o Duas-Caras).
Esse é apenas o começo da história. Muita coisa acontece depois disso.
Morpheus é um verdadeiro herói trágico, sendo reflexivo, sombrio, às vezes até orgulhoso e impiedoso. Mas extremamente cativante, por mais incrível que pareça. Talvez a grande razão disso seja seu forte senso de justiça e coragem, além do seu lado humano.
A única personagem capaz de roubar sua cena é sua irmã, Morte. Diferente do que seria considerado óbvio, ela é doce, bem-humorada, e simpática, agindo como uma verdadeira aliada do Sandman. Um exemplo é sua primeira aparição na história, onde ela cita uma fala da Mary Poppins, e discorre sobre o filme durante alguns quadrinhos. Uma cena imperdível.
Depois dessa declaração de amor , você deve estar pensando "ok, mas o que raios Sandman tem a ver com cinema?". Simples. Como tem acontecido com toda história em quadrinhos marcante, Sandman pode vir a se tornar um filme. Sim, sim, sim!!!!!
Ou talvez não. As últimas notícias sobre o projeto foram que o diretor Joel Schumacher estaria interessado em dirigi-lo. Não que Schumacher seja um mau diretor. Pessoalmente, um dos meus filmes favoritos, O Fantasma da Ópera foi dirigido por ele. Mas depois do desastre com Batman, nenhum fã de Sandman vai querer-lo a menos de dois metros da obra de Gaiman. O desatre em questão é a peróla Batman & Robin, com George Cloney de homem-morcego (até aí tudo bem), com Arnold Schwarzenegger de Mr Freeze(?!) e Umma Thurman(?!?!?!) de Hera Venonosa. Não vi o filme inteiro, mas meia hora ouvindo as piadas de Schwarzenegger envolvendo gelo e aquela fantasia ridicula de Batman foram suficientes para eu ter vontade de me jogar pela janela. O próprio Gaiman disse que entre fazer um filme ruim de Sandman e não fazer nenhum filme, ele ficava com a segunda opção.
Há algum tempo, li um texto do site Omelete onde seu autor falava sobre Sandman, sua importância, etc. A passagem que mais me marcou foi quando ele relembra a ida de Morpheos ao Inferno, atrás de seu elmo, que estaria com um demônio. Chegando lá, ele é desafiado por este, num verdadeiro duelo estilo Merlin vs Madame Min. No fim, o demônio perde a disputa. Mas quando Morpheos está preste a sair, Lucífer o impede, dizendo que não importa sua vitória, que jogos como aquele não valiam da nada no Inferno e pergunta que poder teria o Rei dos Sonhos em um lugar como aquele.
Eu paro por aqui. Só digo que tanto o modo que Morpheos vence o jogo, como a resposta que ele dá a Lucífer são do tipo que merecem ir para as telas. Mas de um jeito bom, não apenas como mais um filme comercial. Gostando ou não, ninguém é capaz de ficar indiferente ao mundo dark, misterioso e fantástico criado por um mestre da literatura e dos quadrinhos.
Termino meu texto igual ao do Omelete. Se quer saber como Morpheos escapa de uma orda de demônios pronta pra triturá-lo, procure por aí e me conte depois o que achou.

domingo, 2 de maio de 2010

Estrada Para o inferno



O grande erro de Homem de Ferro 2( Iron Man 2, no original) foi seu desperdicio de atores e personagens. Assim como Batman Begins e sua continuação, O Cavaleiro das Trevas, este é um dos poucos filme sobre super-heróis com elenco conceituado: Robert Downey Jr., Mickey Rourke(ambos já indicados ao Oscar de melhor ator coadjuvante e melhor ator, respectivamente), Gwyneth Paltrow, Don Cheadle, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson......mas o roteiro mal-acabado acaba ofuscando parte do talento destes.
A história trilha por um caminho muito conhecido nos mundos de Marvel. DC Comics, etc: o apice do heroísmo, sua queda, e o retorno triunfal. O milionário playboy Tony Stark vai ao topo, ao anunciar ser o Homem de Ferro, mas seu ego gigantesco e falta de responsabilidade, aumentados pela fama e adoração instantânea, acabam levando-o para o fundo do poço, ou musicalmente falando, a uma highway to hell. Tudo parece ter sido desenvolvido às pressas, apenas com objetivo de dar continuidade ao primeiro longa e arrecadar mais alguns centavos dos fãs e curiosos. Uma pena, realmente. A metáfora da "estrada para o inferno" pode ser usada tanto para se referir a trama como para a falta de toque dos diretores e produtores. Felizmente, no fim, as coisas se resolvem e a highway se torna menos assustadora.
Mas nem tudo foi perdido. É exatamente esse pouco de carisma e talento aproveitados que salvam filme e corrigem parte de seus erros.
Os destaques decididamente são Downey Jr., revivendo o boa-vida Tony Stark e Jackson, como Nick Fury. Ambos estão excelentes. Downey Jr. parece ter nascido para o papel. Os diálogos entre os dois estão entre as melhores cenas do filme.
Mas além do elenco, o grande acerto foi a trilha sonora. Difícil não se empolgar com Stark se exibindo ao som de Shoot to Thrill e Highway to Hell(!!!!!!!!!!!!!!!), dos mestres AC/DC. A última, por motivos já citados, podia facilmente se tornar tema do filme. É incrível como estas músicas combinarem perfeitamente com a personalidade debochada e irreverente de seus protagonista.
Fazendo um balanço final, Homem de Ferro 2 não é um filme totalmente dispensável, mas podia ter sido melhor.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Scorcese noir


A primeira cena de Ilha do Medo (Shutter Island, no original) que traz a sensação desesperadora de isolamento é quando observamos o detetive Teddy Daniels ( Leonardo DiCaprio) e seu parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo), no carro em direção ao prédio do Shutter Island Ashecliffe Hospital. Nessa tomada, feita de cima, percebemos que tipo de filme vamos assistir.
Este é primeiro filme do gênero feito pelo diretor Martin Scorcese. Entre suas inspirações, estão os clássicos noir da década de 50 e o (mais do que) clássico, O Iluminado de Stanley Kubrick, o que pode ser observado claramente em certas cenas. O roteiro é baseado no livro Paciente 67, de Denjis Lehane, que já flertou com cinema ao ter seu livro Mystic River adaptado para as telas como Sobre Meninos e Lobos.
A história é simples:passada em 1954, Daniels e Aule vão até Ashecliffe para descobrir o paradeiro de uma dos pacientes/prisioneiros do local. Mas as peças não se encaixam. A fugitiva, Rachel Solando (Emily Mortiner), sumiu descalça de seu quarto, que estava trancado. Teddy não quer abandonar o caso, mas a aparição de sua mulher, morta num incêndio, alerta-o todo o tempo para que vá embora da ilha. A medida que ele mergulha mais e mais nesse mistério, a realidade vai se mostrando ser bem diferente do que parecia.
DiCaprio atua magnificamente como um detetive tentando fugir de seus demônios. Ruffalo, mesmo com uma aparição mais discreta, também está ótimo. Mas o grande destaque do filme decididamente é Ben Kingsley como o médico Jonh Crawley, representando um lado da psicologia que começa a enxergar os doentes mentais com olhos mais humanos( apesar de ainda utilizar métodos primitivos).
O filme todo segue em uma palheta de tons acinzentados, frios e duros e recheado com cenas impactantes( algumas até indigestas para estômagos mais delicados). É impressionante ver como a medicina evoluiu na área do tratamento de distúrbios mentais.
Scorcese fez um filme duro, seco, um pouco perturbador mas brilhante. Há quem acredite que este pode ser um indicado ao próximo Oscar. Dá de dez a zero em qualquer alienígena azul com cara de gato.


domingo, 21 de março de 2010

Um Olhar Sobre A Vida


Peter Jackson conseguiu outra vez. O homem que deu vida nos cinemas ao universo de J. R. R. Tolkien novamente mostra seu talento num filme um tanto incomum. Um Olhar do Paraíso( The Lovely Bones, no original) conta a história de Susie Salmon, uma menina de 14 anos que é assassinada e estuprada por seu vizinho. Enquanto espera em um lugar entre o Céu e o Inferno, ela vela por sua família, ao mesmo tempo que nutre um sentimento de vingança por seu assassino.
Com um roteiro bem amarrado e um elenco com atores talentosos, esse não é um filme de se passar despercebido. O principal motivo se chama Stanley Tucci. É estranho ver um ator que atuou em filmes como O Diabo Veste Prada e Julie&Julia consiga representar o papel de vilão. Mas ele consegue. Não há nada de assustador em sua aparência. Nenhuma cicatriz, nada. A única coisa que o torna monstruoso é sua atuação, igualmente monstruosa. Não foi a toa que concorreu a um Oscar.
Além dele, os outros destaques são Susan Sarandon(como a avó da protagonista), responsável pelo humor do filme, e a própria Susie, Saoirse Ronan, que já tinha impressionado o mundo todo como a irmãzinha precoce de Keira Knightley em Desejo e Reparação. Mas mesmo os outros atores chamam atenção. Não existem um ator em Um Olhar...que não represente bem. Todos demonstram, de formas diferentes, o vazio que sentem . Seja a mãe( Rachel Weizs), que mantém o quarto da filha trancado após a tragédia, ou o pai(Mark Wahlberg) e a irmã (Rose McIver) que ainda tem esperanças de achar o culpado, sua avó que tenta manter unida uma família quase em frangalhos.
Outro grande detalhe do filme é sua fotografia. As cenas do "paraíso" de Susie parecem ter saído dos quadros de Salvador Dalí.
Concluindo o que já disse: assistam o filme. Ao contrário do que se foi falado, Um Olhar do Paraíso não é apenas mais um filme sobre morte. É um filme sobre vida.

segunda-feira, 8 de março de 2010


Olá caros leitores!!!( Isso é, se houver realmente alguém aí..)
Hoje é o dia mundial das mulheres e nós recebemos um grande presente: Kathryn Bigelow ganhou o Oscar de melhor diretor(a). Pela primeira vez na história da premiação, uma melhor recebeu ganhou esse prêmio. Pode parecer pouco, mas é realmente uma grande conquista para todas nós cinéfilas, aspirantes a cineastas e/ou cineastas profissionais. Parabéns Kathryn!! E esperamos que ela seja a primeira de uma lista de futuras diretoras a receberem a estatueta dourada.





domingo, 31 de janeiro de 2010

Sherlock reciclado


Se até agora você não viu Sherlock Holmes por medo do que poderiam ter feito com seu herói literário favorito, tome coragem e assista.

Ao ver o trailer, o primeiro pensamento que vem a cabeça dos fãs é "meu Deus, o que fizeram com o Sherlock?". Mas não há motivos para preocupação. Guy Ritchie fez uma "reciclagem" do nosso amado detetive para o público de 2009, sem acabar com estilo do original.

O filme diverte como um misto de aventura e suspense, mais tem um significado muito maior para quem leu os livros ou no mínimo conhece a história de Holmes e seus personagens.

Todos os atores caíram como uma luva em seus respectivos personagens. Robert Downey Jr. traz a elegância, a genialidade e o charme dos livros. Jude Law afirma novamente ser muito mais que um simples rostinho bonito . Rachel McAdams arrasa como Irene Adler, mostrando que definitivamente os tempos de vilã do colégio( sem desmerecer sua brilhante atuação em Meninas Malvadas) ficaram para trás. Eddie Marsan ficou fantástico como Inspetor Lestrade.

A reconstrução da Londres da época e perfeita, com direito aos momentos da construção da London Tower Bridge. O clima do filme te leva para dentro da história.

Na trilha sonora, o destaque vai para a "The Rocky Road to Dublin", de The Dubliners, o tipo de canção que você ouviria num pub britânico, cercado por homens suspeitos,marinheiros briguentos e contadores de estórias.

Então, o que você está esperando? Se ainda não viu, vá assistir o filme na primeira oportunidade que tiver!!! Você não vai se arrepender.

E aos fãs , repito: Não se preocupem. Nenhum detalhe, nenhuma explicação, nenhum personagem foi esquecido. E quando eu digo nenhum persongem, é nenhum mesmo.




Humanizando a Dor


"Por que o Carol age desse jeito?"
"Ele só está com medo."

É mas ou menos essa a fala (minha memória não é muito boa) que resume ONDE VIVEM OS MONTROS( Where The Wild Things Are, no original).
Medo. Medo do desconhecido, medo da mágoa, da solidão,medo do abandono, medo do sofrimento. Por mais que tentemos fugir, acabamos sempre nos machucando. Aprendemos a consertar ossos quebrados, mas não as feridas de nossos corações. Ainda temos muita dificuldade em lidar com a dor emocional. E é sobre isso que o filme fala. Como Spike Jonze conseguiu captar tudo isso de forma leve e dinâmica, sem macular o espírito do livro? Talvez só o próprio Jonze conseguia responder.
O filme conta a história de Max, um menino solitário que, após uma briga com sua família, foge para uma ilha habitada por criaturas selvagens. Lá, torna-se rei destas.
Apesar da leveza, em alguns momentos chegamos a nos sentir sufocados pelos sentimentos dos personagens, seja porque já passamos pelo mesmo que eles ou não.
O próprio Max e seus amigos monstros são apenas um espelho do desejo humano da invencibilidade. Todos queremos ser capazes de suportar as dores físicas, mas principalmente as emocionais. Acreditamos ingenuiamente que seremos fortes o bastante para manter longe a tristeza, mas sempre esquecemos que ela faz parte de nosso aprendizado e que um dia ou outro, não conseguiremos evitá-la. É essa a mensagem do filme. Não importa o quão diferentes ou selvagens sejamos por fora, sempre estaremos sujeitos a tristeza, a mágoa ou a solidão. Tudo isso faz parte de nós.
A beleza do filme está na capacidade de passar essa "moral" sem deixar lado a leveza e a inocência da infância, algo que pode ser onservado principalmente em sua trilha sonora.
Um filme com esse não pode receber uma nota, mas se fosse necesário dá-la, seria 10 ou algo muito próximo a isso.
É o tipo de filme que encanta, mas ao mesmo tempo abre todas as feridas mais antigas. E incrivelmente, consegue cicatrizá-las.